domingo, 6 de dezembro de 2009

Mário Bortolotto: Atire no Dramaturgo!

"A Dificuldade de ir até à esquina e esse gosto de Passport para o inferno" em atirenodramaturgo.zip.net

"Entendam que é difícil pra mim. O telefone toca, mas eu não quero levantar. Deixei "Stranded" do Van Morrison no repeat. Tem uma igreja medieval em cima da minha barriga e algumas orações que aprendi com meus avós na minha cabeça, mas parece que elas não me valem nada. Ainda sinto o gosto do Passport pro inferno. Preciso parar de ir pro Estrela da Roosevelt (o último refúgio que nem sempre nos recebe muito bem). Vou jantar com o Lobo e com a Mariana. Bons presságios. Acho que vou ganhar um Jameson hoje. Um Green Label na minha casa e eu bebendo Passport pro inferno. Eu voltei pro bar hoje. Eu sempre volto pro bar. Os amigos não acreditam quando me vêem entrando pela porta, de novo. Noite boa a de ontem. Grande show. Divertido pra caralho. Emocionante quando tinha que ser e divertido na hora certa. Os amigos se divertindo na platéia. E eu voltei pro bar. Quando ninguém mais acreditava que eu pudesse voltar. Eu tinha tudo pra não voltar, né? Mas eu sempre volto. Hoje recebo mensagens de outros amigos. Mas não quero levantar. Já ouviram "This love of mine" do Van Morrison?"


"Um recomeço: Eu acredito sempre em continuar enquanto for possível"

"Eu vejo as pessoas falando em recomeço, em novas chances, etc. Acho até bonito, mas não acredito nisso. Eu acredito sempre em continuar enquanto for possível. É claro que continuamos um pouco mais safos, mais ligados, mas continuamos. De vez em quando você pode chegar sozinho em casa e ficar horas olhando pela janela. Até parece um pit stop forçado, né? Mas na verdade você tá continuando, só isso. Toda uma trajetória de manobras erradas, de saltos no escuro e de alguns acertos. Você continua, sempre. Quando eu era jovem, lá com meus 22 anos, era um bocado prepotente do tipo que achava que sabia tudo e que nada poderia me deter. Hoje com 47 anos, qualquer resquício daquela prepotencia já dançou completamente. É claro que de vez em quando, principalmente quando me sinto ameaçado, me armo de uma couraça e deixo aflorar o mesmo sentimento de prepotencia que tinha quando jovem e aí posso virar metralhadora giratória e até ofender pessoas queridas. Depois me sinto muito mal, tenho vontade de pedir desculpas e de dizer que sou mesmo um merda e todo o tipo de coisa que vem junto com o arrependimento. Seria quase um "vamos recomeçar do zero, meus amigos?" Mas isso não existe. Não se recomeça. Pelo menos eu não acredito nisso. A gente continua e todos os nossos erros ficam contabilizados como se fossem alertas piscando na sua cabeça. Então se eu ando no sol da manhã e fico esperando um táxi no meio da rua. Um táxi que nunca chega em plena cidade de São Paulo. Dá pra acreditar nisso. Como é que um bêbado sonado e fudido pode ficar quinze minutos esperando um táxi passar? Uma noite sem dormir depois de uma porrada de garrafas de vinho e uma vontade filha da puta de entregar os pontos...se faço isso e espero alguma espécie de perdão enquanto o táxi rasteja pelas ruas... Bem, se faço isso, logo depois quando entro em casa e sento no colchão totalmente nocauteado, percebo que apenas continuo. Não há nada além disso. Bem que dá vontade de parar tudo. Mas a gente continua, sempre. É o que tô fazendo agora." Textos extraídos do blog de Mário Bortolloto: atirenodramaturgo.zip.net


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