sábado, 22 de março de 2008

FRIDA KAHLO - "Com Ferida e Calo"


Descobri a obra de Frida numa edição de bolso de pintores em 1996, fiquei deslumbrada!Frida Nasceu em 1907 no México, declarou-se filha da revolução. Sua vida sempre foi marcada por grandes tragédias: a poliomielite, o acidente que lhe provocou múltiplas fraturas. Começou a pintar durante a convalescença, quando a mãe pendurou um espelho em cima de sua cama. Frida sempre pintou a si mesma: "Eu pinto-me porque estou muitas vezes sozinha e porque sou o assunto que conheço melhor".

Suas angustias, suas vivências, seus medos e principalmente seu amor louco pelo marido Diego Rivera ficaram pintadas nas suas telas. A sua vida foi bastante tumultuada. Diego Rivera tinha muitas amantes e Frida compensava as traições do marido com amantes de ambos os sexos. Fatos irrelevantes, pois a maior dor de Frida foi a impossibilidade de ter filhos (embora tenha engravidado mais de uma vez, as seqüelas do acidente a impossibilitaram de levar uma gestação até o final), o que ficou claro em muitas dos suas telas.

É impressionante como ela viveu tantos anos com dor física e isso aparece nas suas telas pela forma crua e cruel como se representa.

Frida era uma mulher linda (um exemplo da beleza mexicana), os seus retratos mostram que sofria e por isso se pintava de forma agressiva, cada tela é o espelho da sua dor contínua.

No espetáculo “Frida, Fragmentos de Memória” com Rosamaria Murtinho, é representada a figura de Frida com toda a delicadeza e com uma bela performance das atrizes que interpretam as duas fases da pintora: fase jovem interpretada pela atriz Zulma Mercadante, fase madura interpretada por Rosamaria Murtinho.

No entanto senti falta de ver em palco as suas telas, de alguma forma, representadas. Como artista plástica, dou muita importância à matéria que compõe as tintas e os tecidos. Quem lida com materiais plásticos muitas vezes nem usa pincéis, o dedo pinta os pequenos pormenores, é uma relação íntima da matéria com o nosso corpo. Nem precisamos assinar porque fica impressa a nossa digital por cada centímetro da tela.

Senti falta de ver a oposição Frida-Diego, representada nas suas telas que segundo uma análise Freudiana resume a sua relação com o homem da sua vida: em primeira análise mostra-nos "a andorinha delicada e o sapo grotesco"; em segunda análise o lado maternal Frida com Diego no colo.

Senti falta dos esqueletos! Em toda a sua obra estão presentes os esqueletos mexicanos.Os esqueletos significam o seguinte: os mexicanos acreditam que a vida não acaba com a morte, mas continua. Acreditam que vida e morte são momentos distintos de uma mesma existência. É comum ver um time de futebol vestido de esqueletos, ou uma moça feita de ossos em biquíni ao sol. Essas e outras manifestações fazem parte das comemorações do “Dia de los Muertos”.

Aquele coração gigantesco que estava esquecido no palco... fiquei até ao final esperando que alguém o lembrasse! Senti falta daquela vegetação tão mexicana que invade os nossos olhos e senti falta do "desejo vital" expressado por Frida em conceber um filho do seu útero. Eis alguns pormenores que ficarão para um próximo espetáculo sobre Frida!

É louvável todo o trabalho de encenação, Caco Ciocler fez uma bela direção. Percebe-se que existe todo um trabalho de laboratório com os atores. É louvável o desempenho de ambas as Fridas e a coragem de Rosamaria Murtinho ao desempenhar este papel.