quarta-feira, 19 de março de 2008

"Florbela Me Espanca"


”E a minha boca tem uns beijos mudos...
E as minhas mãos, uns pálidos veludos,
Traçam gestos de sonho pelo ar...”
O espetáculo “Florbela Me Espanca” inicia-se no momento da morte da poetisa e, através de flashbacks (da infância, adolescência e idade adulta), revela-nos momentos da convivência e da personalidade da poetisa, reconstruindo a trajetória da sua vida. Esse recurso épico vem relativizar os atos e as justificativas relatadas nos seus poemas e informadas na sua biografia. A história oferece ao público a oportunidade de mudar de perspectiva quanto ao que já se escreveu sobre a poetisa. Inspirado na Filosofia de Jang, o espetáculo apresenta uma Florbela próxima da “Femme fatal” teatralizada pela atriz e longe da mulher em sofrimento constantemente pintada pela crítica literária.
Em cena a atriz Liliana Rosa e uma pequena orquestra de três músicos. O espetáculo pretende fazer o percurso, ao contrário (do fim para o início), através da vida e dos lugares onde poetisa se locomoveu durante a sua curta vida. Através da encenação destes lugares, o movimento teatral criará outra viagem arquitetônica onde a sua poesia se inspirou e onde foi beber os símbolos.
“Florbela Me Espanca” é um espetáculo simbólico onde predomina a fisicalidade embebida nas palavras e a música funcionará como narrador do cenário.
A personagem central, Florbela, a poetisa de excessos que cultivou exacerbadamente a paixão, com voz marcadamente feminina (entidade trágica em quem alguns críticos encontram dom-joanismo no feminino). É tida como a grande figura feminina das primeiras décadas da literatura portuguesa do século XX.