quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Un paysan dans les nuages, "um qual carapuça" das gândaras.


Um segredinho, "qual carapuça", é antes algo que só pode ser notado a "olhos vistos" se cair na alçada do povo e se nos lembrarmos de detalhes. Mas certas coisas o povo não quer que a gente saiba. Um dia assisti ao nascimento de dois cabritos, minha mãe foi a parteira, com sua visão de sábia, ela perfurou o saco das águas e os bichinhos nasceram. Depois lembro-me deles andando em cima no murinho estreito do poço de rega perto da eira. Outro episódio igualmente "retalho de minha mente" foi uma galinha poedeira que engoliu demasiado milho de uma vez só vez... A quantidade atravessada em sua garganta impedia-a de respirar, estava sufocando, estava agonizando! Minha mãe ou minha minha avó, uma das cirurgiãs de serviço, abriu o pescocinho do bicho e retirou o excesso atravancado em sua garganta. De seguida fechou o golpe com linha de costura e a ave sobreviveu. Essa ainda pôs muitos ovos mas cacarejar,"lavado seja Deus", isso seria pedir muito. Lembro-me de apanhar morangos verdes do quintal, amoras silvestres, figos no tempo deles, uvas para pisar, ameixas e laranjas. E tanta gente tem um laranjal e passa horas à sombra na conversa e comendo laranjas porque o mais penoso nestas tardes é apanhar batatas num sol escaldante..."Amar a dor" ou "amardor" como queiram chamar a esta preposição gândareza, eis a questão. De vez em quando é bom lembrar certas façanhas.

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