domingo, 27 de abril de 2008

O corpo moda e o corpo arte


"Quando eu era reporter" são textos que publiquei durante uma longa temporada no Jornal Universitário.

«E sempre esta cabeça, defronte, este olho ciclópico, o olho interior do espírito que a mão direita procura alcançar, tacteando.» Antonin Artaud

Como é visto o meu corpo hoje? Como visto o meu corpo hoje? As abordagens ao corpo referem sempre a forma como ele aparece à vista. Outras mais eruditas tendem a decifrar sinais que cada corpo transmite individualmente. Hoje o corpo está meio escondido por entre casacos compridos, curtos, impermeáveis, gabardinas, jaquetas ou casacos de pele. Quando se fala em «corpo» somos remetidos directamente para a moda, e lembramos que o que vestimos funciona como um uniforme social que nos identifica. O vestuário árabe, por exemplo, permaneceu o mesmo durante séculos, sem ser afectado pela moda devido à condição social estática e ao clima constante. Em Portugal o último grito da moda aparece em grandes desfiles nas ruas. Para artistas, antropólogos, modistas ou apenas simpatizantes deste assunto aqui fica o convite a visitar uma das galerias mais completas da zona do Porto – a Rua de S.ta Catarina.
Nas artes plásticas ou performativas, o corpo aparece representado de inúmeras formas, funcionando, ora instrumento ora como inspiração.
No teatro, o actor executa «acções físicas» para dar realidade concreta à sua personagem. O corpo funciona como um sistema interactivo que torna possível a comunicação de uma realidade virtual aos espectadores, visto que não é a realidade da vida, mas a de um universo imaginário. O corpo todo pensa/age com uma qualidade de energia diferente da energia utilizada no dia-a-dia, sendo a inteligência cénica do actor a sua vitalidade, a sua acção, a sua energia. Durante uma peça de teatro, tudo o que é expresso interiormente é reflectido do «bios do actor». O pensamento segue a natureza da personagem, e em função de um longo treino, o corpo flui livremente, com rapidez e de forma ordenada.
Na dança, na sua forma mais simples, o corpo é um meio de expressão natural - através do movimento se comunicam as emoções. O homem, tal como os animais, começou a comunicar-se pela dança instintivamente para celebrar fases da vida: o nascimento, a puberdade, a morte. É curioso perceber a diferença de linguagens entre o Ocidente e o Oriente. No ocidente evidencia-se os pés, no Oriente as mãos. Na dança do templos da Índia, há pelo menos 4000 mudras (posições das mãos), o bailarino indiano tem de controlar o movimento de cada dedo, independentemente dos outros. Enquanto que o bailarino de ballet ocidental dedica-se especialmente aos pés, ele tem de ser capaz de elevar os pés em suspensão e de executar com eles movimentos enquanto está no ar. Utiliza os pés como base de equilíbrio e sustentação e como instrumento de propulsão - actuam no lançamento do corpo para o ar e servem como suporte amortecedor no chão.Os estudos sobre o corpo humano mostram que o grau de movimento que um corpo é capaz depende da sua forma, do comprimento das cartilagens da flexibilidade e da força dos músculos e que, quando se movimenta, cada indivíduo possui uma qualidade musical de ritmo diferente - o que nas artes é estudado para criação expressiva de modelos, figuras ou personagens.

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