quarta-feira, 25 de novembro de 2009

O tempo dos cravos na boca: Libertatis amans et fidei tenax.


Não é Abril mas sinto como se fosse hoje um abril intenso e demorado que se atrasou a amanhecer e que acordou ainda em lágrimas, aos soluços se vestiu de vermelho intenso e foi servir de escudo na batalha do quadrado.
Um tempo de flores e de velas, de salva e mirra para agradecer. Um alvo de sangue rubro e cansado de correr mas são.
E na Gestinha eu sentava num tronco qualquer ou deitada na erva, olhava o poço de água e sonhava com edifícios grandes e casas alvas, janelas largas e lugares amplos, sorrisos geométricos e um pouco de paz e alguns beijos longos num silêncio apolíneo que me trouxesse a esse lugar de sol rodeado de verde a cada dia.
Ainda lembro das coisas que escrevia nesse tempo de "cravos na boca":
Trago na cintura dos dedos os timpanos
para poder decorar a sinfonia das ervas;
rogar tramas aos mais rasteiros bichos
e com o rumor das velhas larvas aprender a estrelar o céu dos nados
e a calcar o chão dos mortos.
Esses mortos são alguns que estão plantados lá e que eu amo demais. A minha árvore que foi podada cedo e eu, com barro e terra, aprendi a amar sem saber porquê. E ainda ouço essas pessoas cantar no meio das terras semeadas, das plantações de milho e de pasto, das valas com agrião e girinos, dos enchertos de pessegueiros, das pereiras em flor todo o ano. A sua melodia tilinta-me nos ouvidos e dói só de pensar que estou aqui só, sem raiz e sem época.Tenho saudades.
Ligari enim homo potest et invitus; velle autem non potest invitus. [S.Anselmo] "Pode o homem ser amarrado mesmo contra sua vontade; mas não pode ser forçado a querer".

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